Livro de Jonas: Profecia, Misericórdia e Arrependimento


Livro de Jonas: Profecia, Misericórdia e Arrependimento

Introdução

O Livro de Jonas, encontrado no Antigo Testamento, é uma narrativa fascinante que oferece uma visão profunda sobre a misericórdia de Deus, a importância do arrependimento e a abrangência do Seu amor. 

Diferente de muitos livros proféticos, Jonas foca mais na história do profeta do que em suas mensagens. 

A jornada de Jonas nos leva a explorar temas de desobediência, redenção e a aliança de Deus com toda a humanidade. 

Este artigo examinará as principais partes do Livro de Jonas, destacando a estrutura da narrativa, suas lições teológicas e implicações espirituais.

A Primeira Comissão de Jonas (Jonas 1,1-3)

O livro começa com Deus comissionando Jonas para ir a Nínive e pregar contra sua maldade: "Veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim" (Jonas 1,1-2). 

Jonas, no entanto, desobedece e tenta fugir da presença de Deus, embarcando para Társis: "Mas Jonas se levantou para fugir da presença do Senhor para Társis; desceu a Jope, encontrou um navio que ia para Társis" (Jonas 1,3). 

Este ato de desobediência inicial estabelece o conflito central da narrativa.

A Tempestade no Mar (Jonas 1,4-6)

Deus envia uma grande tempestade no mar, ameaçando o navio onde Jonas estava: "Mas o Senhor lançou sobre o mar um grande vento, e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava a ponto de se quebrar" (Jonas 1,4). 

Os marinheiros, temendo por suas vidas, oram a seus deuses e lançam cargas ao mar para aliviar o navio: "Temeram os marinheiros e clamavam cada um ao seu deus, e lançavam no mar a carga que estava no navio" (Jonas 1,5). 

Enquanto isso, Jonas dormia no porão, ignorando o perigo iminente: "Mas Jonas desceu ao porão do navio, deitou-se e dormia profundamente" (Jonas 1,5).

Jonas Confessa Sua Fuga (Jonas 1,7-10)

Os marinheiros, desesperados, lançam sortes para descobrir quem causou a tempestade, e a sorte cai sobre Jonas: "E disseram uns aos outros: Vinde, e lancemos sortes, para que saibamos por causa de quem nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas" (Jonas 1,7). 

Confrontado, Jonas confessa sua identidade e fuga: "E disse-lhes: Eu sou hebreu, e temo ao Senhor, o Deus do céu, que fez o mar e a terra seca" (Jonas 1,9). 

Os marinheiros ficam aterrorizados e questionam por que ele fugiu de Deus: "Então os homens ficaram possuídos de grande temor e disseram-lhe: Que é isso que fizeste?" (Jonas 1,10).

Jonas é Lançado ao Mar (Jonas 1,11-16)

Os marinheiros perguntam a Jonas o que devem fazer para acalmar o mar, e ele responde que devem lançá-lo ao mar: "E ele lhes disse: Tomai-me, e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará para vós; porque eu sei que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade" (Jonas 1,12). 

Relutantes, os marinheiros tentam remar de volta à terra, mas a tempestade continua: "Entretanto, os homens remavam, esforçando-se por alcançar a terra, mas não podiam" (Jonas 1,13). 

Finalmente, eles pedem perdão a Deus e lançam Jonas ao mar: "Então, tomaram a Jonas, e o lançaram ao mar; e cessou o mar da sua fúria" (Jonas 1,15).

Jonas no Ventre do Peixe (Jonas 1,17-2,1)

Deus prepara um grande peixe para engolir Jonas, que permanece no ventre do peixe por três dias e três noites: "Deparou, pois, o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe" (Jonas 1,17). 

No ventre do peixe, Jonas ora ao Senhor, reconhecendo sua situação desesperadora e a misericórdia de Deus: "Na minha angústia clamei ao Senhor, e ele me respondeu; do ventre do inferno gritei, e tu ouviste a minha voz" (Jonas 2,2). 

A oração de Jonas é um cântico de ação de graças e arrependimento, onde ele promete cumprir seus votos a Deus: "Mas eu te oferecerei sacrifício com a voz do agradecimento; o que votei, pagarei. Do Senhor vem a salvação" (Jonas 2,9).

Jonas é Vomitado pelo Peixe (Jonas 2,10-3,2)

Deus ordena ao peixe que vomite Jonas em terra firme: "Falou, pois, o Senhor ao peixe, e ele vomitou a Jonas em terra seca" (Jonas 2,10). 

Novamente, Deus comissiona Jonas para ir a Nínive: "Veio a palavra do Senhor segunda vez a Jonas, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive e prega contra ela a mensagem que eu te digo" (Jonas 3,1-2). 

Desta vez, Jonas obedece e se dirige a Nínive, demonstrando seu arrependimento e disposição em cumprir a vontade de Deus.

A Pregação de Jonas em Nínive (Jonas 3,3-5)

Jonas entra na cidade de Nínive e começa a proclamar a mensagem de Deus: "E começou Jonas a entrar pela cidade, caminho de um dia, e pregava, dizendo: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida" (Jonas 3,4). 

Surpreendentemente, os habitantes de Nínive acreditam em Deus, proclamam um jejum e vestem-se de pano de saco: "E os homens de Nínive creram em Deus, e proclamaram um jejum, e vestiram-se de saco, desde o maior até o menor" (Jonas 3,5). 

Este arrependimento coletivo é uma resposta inesperada e poderosa à mensagem de Jonas.

O Arrependimento do Rei de Nínive (Jonas 3,6-9)

A notícia chega até o rei de Nínive, que se levanta do trono, tira suas vestes reais, cobre-se de pano de saco e se assenta sobre cinzas: "E chegou esta notícia ao rei de Nínive; e levantou-se do seu trono, tirou de si a sua capa, cobriu-se de saco, e assentou-se sobre a cinza" (Jonas 3,6). 

O rei decreta um jejum para todos, incluindo os animais, e exorta todos a clamar fortemente a Deus e a se converter de seus maus caminhos: "E fez-se pregão, e divulgou-se em Nínive, por mandado do rei e dos seus grandes, dizendo: Nem homens, nem animais... provem coisa alguma" (Jonas 3,7). 

Ele expressa esperança de que Deus possa se arrepender e afastar sua ira: "Quem sabe se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, para que não pereçamos?" (Jonas 3,9).

Deus Perdoa Nínive (Jonas 3,10)

Deus vê as obras de arrependimento dos ninivitas e decide não trazer sobre eles a destruição anunciada: "E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito que lhes faria, e não o fez" (Jonas 3,10). 

Este ato de misericórdia destaca a disposição de Deus em perdoar aqueles que se arrependem sinceramente. 

A história mostra que a aliança de Deus não está limitada a Israel, mas estende-se a todas as nações que se voltam para Ele em arrependimento.

A Ira de Jonas (Jonas 4,1-3)

Jonas, no entanto, fica profundamente descontente e irado com a misericórdia de Deus: "Mas isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado" (Jonas 4,1). 

Ele ora a Deus, expressando seu descontentamento e justificando sua fuga inicial: "Ah! Senhor! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso me adiantei, fugindo para Társis" (Jonas 4,2). 

Jonas pede a morte, dizendo que prefere morrer a ver a misericórdia de Deus para com Nínive: "Agora, Senhor, tira a minha vida, pois melhor me é morrer do que viver" (Jonas 4,3).

A Lição da Planta (Jonas 4,4-6)

Deus responde à ira de Jonas com uma pergunta, desafiando sua raiva: "Fazes bem que assim te ires?" (Jonas 4,4). 

Jonas sai da cidade e faz uma cabana, esperando para ver o que aconteceria com Nínive: "Então Jonas saiu da cidade, assentou-se ao oriente da cidade, e ali fez uma cabana para si" (Jonas 4,5). 

Deus faz crescer uma planta sobre Jonas para dar-lhe sombra e aliviá-lo do seu desconforto: "E fez o Senhor Deus nascer uma planta, que subiu por cima de Jonas, para que fizesse sombra sobre a sua cabeça, a fim de o livrar do seu desconforto" (Jonas 4,6). 

Jonas fica muito contente com a planta.

A Planta Murcha (Jonas 4,7-8)

No dia seguinte, Deus envia um verme que ataca a planta e a faz murchar: "Mas, ao subir da alva do dia seguinte, Deus preparou um verme, o qual feriu a planta, e esta se secou" (Jonas 4,7). 

Quando o sol se levanta, Deus envia um vento quente, e Jonas sofre com o calor, desejando novamente a morte: "E aconteceu que, aparecendo o sol, Deus mandou um vento calmoso oriental, e o sol feriu a cabeça de Jonas, de maneira que ele desfalecia; e desejou com toda a sua alma morrer" (Jonas 4,8). 

Ele repete que é melhor morrer do que viver: "E disse: Melhor me é morrer do que viver" (Jonas 4,8).

A Lição de Deus para Jonas (Jonas 4,9-11)

Deus pergunta a Jonas novamente se ele tem razão para estar irado por causa da planta, e Jonas insiste que tem: "Então, disse Deus a Jonas: É acaso razoável essa tua ira por causa da planta? E ele disse: É justo que eu me enfureça até à morte" (Jonas 4,9). 

Deus então explica a lição, contrastando a compaixão que Jonas tem por uma planta que não cultivou com a compaixão divina por Nínive: "E disse o Senhor: Tiveste compaixão da planta, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer... e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive?" (Jonas 4,10-11). 

Deus destaca a importância do arrependimento e da misericórdia.

Conclusão

O Livro de Jonas nos ensina sobre a vastidão da misericórdia de Deus e a universalidade de Sua aliança. 

A história mostra que a obediência a Deus é fundamental e que Ele está disposto a perdoar aqueles que se arrependem, independentemente de sua origem. 

A reação de Jonas nos desafia a considerar nossas próprias atitudes em relação à misericórdia divina e ao arrependimento. 

A narrativa reforça que Deus se preocupa com todas as nações e deseja que todos se voltem para Ele. 

O Livro de Jonas, portanto, é uma poderosa lição de compaixão, obediência e a abrangência do amor de Deus.

Referências

  • Bíblia Sagrada, Edição Pastoral. Paulus Editora.
  • "The Book of Jonah: A Commentary" por Jack M. Sasson.
  • "Jonah: A New Translation with Introduction and Commentary" por Phyllis Trible.
  • "The Minor Prophets: An Exegetical and Expository Commentary" por Thomas Edward McComiskey.

Histoipixuna

Elias Albano de Souza

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