Carta aos Hebreus

Apostolo Paulo escrevendo um pergaminho

Introdução

A Carta aos Hebreus é uma das epístolas mais profundas e teologicamente ricas do Novo Testamento.

Conforme a tradição da Igreja, a carta foi escrita por São Paulo e que não é bem uma carta em sua composição, mas uma pregação. 

A carta foi escrita para uma comunidade cristã de origem judaica, que enfrentava dificuldades e perseguições, e estava em risco de voltar às práticas do judaísmo. 

O autor enfatiza a superioridade de Cristo sobre todas as figuras e rituais do Antigo Testamento, e exorta os leitores a perseverarem na fé. 

Neste artigo, exploraremos as principais partes da Carta aos Hebreus.

A Supremacia de Cristo sobre os Profetas (Hebreus 1,1-4)

A carta começa destacando a supremacia de Cristo, afirmando que Deus falou de muitas maneiras pelos profetas, mas, nos últimos dias, falou-nos pelo Filho: 

"Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho" (Hebreus 1,1-2). 

Cristo é descrito como o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder: 

"O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder" (Hebreus 1,3). 

Após realizar a purificação dos pecados, Cristo assentou-se à direita da Majestade nas alturas, superior aos anjos: 

"Feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles" (Hebreus 1,4).

Cristo, Superior aos Anjos (Hebreus 1,5-14)

O autor continua a mostrar a superioridade de Cristo sobre os anjos, citando várias passagens do Antigo Testamento. 

Ele pergunta retoricamente a qual dos anjos Deus disse: "Tu és meu Filho, hoje te gerei?" (Hebreus 1,5), destacando a filiação divina de Cristo. 

Além disso, é dito que todos os anjos de Deus devem adorá-lo: "E outra vez, quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem" (Hebreus 1,6). 

O autor conclui este capítulo lembrando que os anjos são espíritos ministradores, enviados para servir os que hão de herdar a salvação, enquanto Cristo está eternamente entronizado: 

"Mas, do Filho, diz: O teu trono, ó Deus, subsiste pelos séculos dos séculos" (Hebreus 1,8).

A Advertência contra a Negligência (Hebreus 2,1-4)

No segundo capítulo, o autor adverte os leitores sobre o perigo de negligenciar tão grande salvação: 

"Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas" (Hebreus 2,1). 

Ele reforça que a mensagem do evangelho é maior que a dos anjos e que desobedecer a essa mensagem traz graves consequências: 

"Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação?" (Hebreus 2,3). 

O autor menciona que essa salvação foi anunciada pelo Senhor, confirmada pelos que a ouviram, e atestada por Deus com sinais e prodígios: 

"Deus testemunhou com sinais, maravilhas, e diversos milagres e dons do Espírito Santo, segundo a sua vontade" (Hebreus 2,4).

A Encarnação de Cristo e a Sua Solidariedade com a Humanidade (Hebreus 2,5-18)

Cristo, que é superior aos anjos, se fez um pouco menor que eles para, através da morte, destronar aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo: 

"Visto que os filhos são participantes de carne e sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo" (Hebreus 2,14). 

Ele se tornou como seus irmãos em tudo, para ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel nas coisas concernentes a Deus: 

"Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus" (Hebreus 2,17). 

Cristo é capaz de socorrer os que são tentados porque Ele mesmo sofreu e foi tentado: "Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados" (Hebreus 2,18).

Cristo, o Apóstolo e Sumo Sacerdote da Nossa Confissão (Hebreus 3,1-6)

O autor exorta os leitores a considerarem Jesus, o apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão, que é digno de maior glória que Moisés: 

"Pelo que, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai a Jesus Cristo, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão, o qual é fiel ao que o constituiu, como também o era Moisés em toda a sua casa" (Hebreus 3,1-2). 

Cristo é comparado a Moisés, mas é dito que Ele é mais digno, assim como o construtor da casa é mais honrado que a casa em si: 

"Porque toda casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é Deus" (Hebreus 3,4). 

Enquanto Moisés foi fiel como servo em toda a casa de Deus, Cristo é fiel como Filho sobre a sua própria casa: 

"Mas Cristo, como Filho sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim" (Hebreus 3,6).

A Advertência contra a Incredulidade (Hebreus 3,7-19)

O autor faz uma advertência severa, citando o Salmo 95, e encorajando os leitores a não endurecerem seus corações como os israelitas no deserto: 

"Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto" (Hebreus 3,7-8). 

Ele lembra como aquela geração viu as obras de Deus durante quarenta anos, mas ainda assim se rebelou, e, por isso, não entrou no descanso de Deus: 

"Por isso me indignei contra esta geração, e disse: Estes sempre erram em seu coração, e não conheceram os meus caminhos" (Hebreus 3,10). 

O autor exorta os crentes a encorajarem-se mutuamente, para que nenhum deles seja endurecido pelo engano do pecado: 

"Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado" (Hebreus 3,13).

O Descanso Prometido (Hebreus 4,1-11)

O tema do descanso continua, com o autor afirmando que a promessa de entrar no descanso de Deus ainda permanece: 

"Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu descanso, pareça que algum de vós fique para trás" (Hebreus 4,1). 

Ele explica que a mensagem de Deus foi pregada tanto aos israelitas quanto aos cristãos, mas os primeiros não se beneficiaram por não combinarem a fé com o que ouviram: 

"Porque também a nós foram pregadas as boas novas, como a eles; mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram" (Hebreus 4,2). 

O autor incentiva os leitores a se esforçarem para entrar nesse descanso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência: 

"Procuremos, pois, entrar naquele descanso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência" (Hebreus 4,11).

A Palavra de Deus é Viva e Eficaz (Hebreus 4,12-13)

O autor destaca o poder da palavra de Deus, afirmando que ela é viva e eficaz, mais cortante que qualquer espada de dois gumes: 

"Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração" (Hebreus 4,12). 

Ele enfatiza que nada está oculto aos olhos de Deus, mas todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele a quem devemos prestar contas: 

"E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar" (Hebreus 4,13). 

Este é um chamado à vigilância e à obediência, reconhecendo a autoridade e o julgamento divinos.

Cristo, o Grande Sumo Sacerdote (Hebreus 4,14-16)

A figura de Cristo como sumo sacerdote é central na Carta aos Hebreus. O autor exorta os crentes a se apegarem firmemente à sua confissão, porque têm um grande sumo sacerdote que penetrou os céus, Jesus, o Filho de Deus: 

"Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou os céus, retenhamos firmemente a nossa confissão" (Hebreus 4,14). 

Cristo é um sumo sacerdote que pode compadecer-se das nossas fraquezas, pois foi tentado em todas as coisas à nossa semelhança, mas sem pecado: 

"Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado" (Hebreus 4,15). 

Por isso, os crentes são convidados a se aproximarem com confiança do trono da graça, para alcançar misericórdia e encontrar graça para socorro em tempo oportuno: 

"Cheguemo-nos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno" (Hebreus 4,16).

A Superioridade do Sacerdócio de Cristo (Hebreus 5,1-10)

O autor contrasta o sacerdócio levítico com o sacerdócio eterno de Cristo, destacando que todo sumo sacerdote é escolhido entre os homens e constituído nas coisas concernentes a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados: 

"Porque todo sumo sacerdote, tomado dentre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, para que ofereça dons e sacrifícios pelos pecados" (Hebreus 5,1). 

No entanto, Cristo, sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, sendo aperfeiçoado, tornou-se a causa da salvação eterna para todos os que lhe obedecem: 

"E, sendo ele consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem" (Hebreus 5,9). 

Cristo foi chamado por Deus como sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, que é superior à ordem levítica: 

"Chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque" (Hebreus 5,10).

O Perigo da Apostasia (Hebreus 6,4-8)

Uma das advertências mais sérias na Carta aos Hebreus é contra a apostasia, ou seja, o abandono da fé. 

O autor afirma que é impossível renovar para arrependimento aqueles que uma vez foram iluminados e provaram o dom celestial, mas caíram: 

"Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento" (Hebreus 6,4-6). 

Ele compara esses a uma terra que, depois de receber chuva frequentemente, não produz vegetação útil e, portanto, está perto da maldição e do fogo: 

"Mas a terra que bebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, e está perto da maldição; o seu fim é ser queimada" (Hebreus 6,7-8).

A Certeza da Promessa de Deus (Hebreus 6,9-20)

Apesar da advertência, o autor encoraja os leitores, afirmando que está convencido de coisas melhores a respeito deles, que acompanham a salvação: 

"Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos" (Hebreus 6,9). 

Deus é justo e não se esquece do trabalho e do amor que os crentes mostraram em seu nome: 

"Porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra e do trabalho de amor que para com o seu nome mostrastes, enquanto servistes aos santos e ainda servis" (Hebreus 6,10). 

O autor encoraja os crentes a imitarem aqueles que pela fé e paciência herdam as promessas, lembrando a promessa feita a Abraão e o juramento de Deus, que são duas coisas imutáveis nas quais é impossível que Deus minta: 

"Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta" (Hebreus 6,18).

Cristo, o Sumo Sacerdote segundo a Ordem de Melquisedeque (Hebreus 7,1-28)

O autor desenvolve o tema do sacerdócio de Cristo, comparando-o com Melquisedeque, o rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, que abençoou Abraão e a quem Abraão deu o dízimo de tudo: 

"Porque este Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão quando ele voltava da matança dos reis, e o abençoou, a quem também Abraão deu o dízimo de tudo" (Hebreus 7,1-2). 

Melquisedeque é apresentado como uma figura que prefigura Cristo, sendo sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de vida, mas feito semelhante ao Filho de Deus: 

"Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre" (Hebreus 7,3). 

O autor conclui que o sacerdócio de Cristo, segundo a ordem de Melquisedeque, é superior ao sacerdócio levítico, porque é baseado em uma aliança melhor, com promessas melhores: "De tanto melhor aliança Jesus foi feito fiador" (Hebreus 7,22).

O Ministério Superior de Cristo (Hebreus 8,1-13)

O autor resume o ponto principal da carta, afirmando que temos um sumo sacerdote tão grande, que se assentou à direita do trono da Majestade nos céus: 

"Ora, a suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da Majestade" (Hebreus 8,1). 

Cristo é ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, e não o homem: "Ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem" (Hebreus 8,2). 

O autor explica que o sacerdócio levítico servia de figura e sombra das coisas celestiais, mas Cristo obteve um ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma aliança melhor, estabelecida sobre melhores promessas: 

"Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor aliança, a qual está confirmada em melhores promessas" (Hebreus 8,6).

O Sacrifício Perfeito de Cristo (Hebreus 9,11-28)

O autor continua, explicando que Cristo veio como sumo sacerdote dos bens futuros, através de um tabernáculo maior e mais perfeito, não feito por mãos, isto é, não desta criação: 

"Mas Cristo, vindo como sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação" (Hebreus 9,11). 

Ele entrou uma vez por todas no santo dos santos, não com sangue de bodes e bezerros, mas com seu próprio sangue, obtendo eterna redenção: 

"Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção" (Hebreus 9,12). 

Cristo se ofereceu a si mesmo, sem mácula, a Deus, para purificar a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo: 

"Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?" (Hebreus 9,14).

A Perseverança na Fé (Hebreus 10,19-39)

Depois de expor a obra redentora de Cristo, o autor exorta os crentes a se aproximarem de Deus com um coração sincero e com plena certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência e o corpo lavado com água limpa: 

"Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa" (Hebreus 10,22). 

Eles devem manter firme a confissão da esperança, sem vacilar, porque fiel é o que prometeu: "Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança, porque fiel é o que prometeu" (Hebreus 10,23). 

O autor também os exorta a não abandonarem a congregação, como é costume de alguns, mas a encorajarem-se mutuamente, especialmente à medida que o Dia se aproxima: 

"E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos à caridade e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia" (Hebreus 10,24-25).

Conclusão

A Carta aos Hebreus é uma exortação poderosa para os crentes permanecerem firmes na fé em Cristo, que é superior a todos os mediadores da antiga aliança. 

Ela apresenta Cristo como o sumo sacerdote perfeito, que ofereceu o sacrifício final pelos pecados e que inaugurou uma nova aliança baseada em promessas melhores. 

Os leitores são chamados a perseverar, a não cair na incredulidade e a se aproximarem de Deus com confiança, sabendo que Cristo intercede por eles. 

Em última análise, a carta nos lembra que, em Cristo, temos tudo o que precisamos para a salvação e a vida eterna. 

Que possamos, como os destinatários originais da carta, manter firme a nossa confissão de esperança e continuar a buscar o descanso eterno em Deus, confiando em Sua palavra viva e eficaz.

Histoipixuna

Elias Albano de Souza

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