I Carta de São João

Jesus ao centro e os apóstolos ao redor

Introdução

A Primeira Carta de São João é um texto fundamental do Novo Testamento que oferece uma profunda reflexão sobre o amor, a luz e a comunhão com Deus. 

Escrita pelo apóstolo João, esta carta visa fortalecer a fé dos cristãos, alertando-os contra heresias e promovendo uma vida de santidade baseada no amor de Cristo. 

João enfatiza a importância da verdade e da justiça, além de nos lembrar da aliança que temos com Deus por meio de Jesus Cristo. 

Este artigo irá explorar as principais partes dessa epístola, abordando seus temas centrais e implicações teológicas.

Comunhão com Deus e o Caminho da Luz (1 João 1,1-10)

João inicia sua carta enfatizando a importância da comunhão com Deus, a qual é possível por meio de Jesus Cristo, a Palavra da vida: 

“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos, e o que as nossas mãos tocaram da Palavra da vida” (1 João 1,1). 

Ele destaca que a verdadeira comunhão só pode ser vivida na luz, pois Deus é luz e não há trevas n'Ele: “E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas” (1 João 1,5). 

João adverte que, se dizemos que temos comunhão com Deus, mas andamos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade: 

“Se dissermos que temos comunhão com ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade” (1 João 1,6).

Confissão dos Pecados e Purificação (1 João 1,8-10)

A carta enfatiza a necessidade de reconhecer os próprios pecados e buscar a purificação por meio de Jesus Cristo. João alerta que, se afirmamos não ter pecado, enganamos a nós mesmos: 

“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós” (1 João 1,8). 

No entanto, ele assegura que, se confessarmos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1,9). 

Este ensinamento é central para a prática sacramental da confissão na Igreja Católica, onde os fiéis buscam o perdão de Deus e a reconciliação com a comunidade.

Cristo, Nosso Advogado e Propiciação (1 João 2,1-2)

João prossegue, apresentando Cristo como nosso advogado junto ao Pai, aquele que intercede por nós: 

“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo” (1 João 2,1). 

Ele sublinha que Jesus é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas pelos do mundo inteiro: 

“E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 João 2,2). 

Este conceito de propiciação reflete a missão redentora de Cristo, que, através de sua paixão, morte e ressurreição, reconcilia a humanidade com Deus, cumprindo a nova aliança.

Obediência e Amor Fraternal (1 João 2,3-11)

João destaca que o verdadeiro conhecimento de Deus se manifesta na obediência aos seus mandamentos: “E nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos” (1 João 2,3). 

Ele ensina que o maior mandamento é o amor, e aquele que afirma estar na luz, mas odeia seu irmão, ainda está nas trevas: “Aquele que diz estar na luz, e odeia a seu irmão, até agora está em trevas” (1 João 2,9). 

O apóstolo enfatiza que amar o irmão é viver na luz, sem tropeço: “Aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalo” (1 João 2,10). 

A vida cristã, portanto, é caracterizada pela prática do amor fraternal, essencial para a comunhão com Deus e os outros.

A Superação do Mundo e das Heresias (1 João 2,15-17)

João alerta os cristãos contra o apego ao mundo e seus desejos, lembrando que o amor ao mundo é incompatível com o amor ao Pai: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 João 2,15). 

Ele destaca que o mundo passa com seus desejos, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre: “E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1 João 2,17). 

A mensagem de João é clara: os cristãos devem permanecer fiéis à verdade e não se deixar enganar pelas heresias que negam a Cristo.

A Unção do Espírito Santo (1 João 2,20-27)

João fala sobre a unção do Espírito Santo, que ensina e guia os cristãos na verdade: “E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo” (1 João 2,20). 

Ele exorta os fiéis a permanecerem na unção recebida, que os protege do engano: “E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas como a sua unção vos ensina todas as coisas” (1 João 2,27). 

Esta unção é vista na tradição católica como o sacramento do Crisma, onde o Espírito Santo é conferido ao cristão para fortalecê-lo na fé e na missão de testemunhar Cristo no mundo.

Filhos de Deus e a Esperança da Glória (1 João 3,1-3)

João exulta ao afirmar que somos filhos de Deus, e que ainda não se manifestou o que havemos de ser: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus; e nós o somos” (1 João 3,1). 

Ele enfatiza que, quando Cristo se manifestar, seremos semelhantes a Ele, pois o veremos como Ele é: 

“Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele” (1 João 3,2). 

Esta esperança nos motiva a nos purificar, assim como Ele é puro: “E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1 João 3,3).

O Pecado e a Justiça (1 João 3,4-10)

João aborda o tema do pecado, afirmando que todo aquele que permanece em Cristo não vive na prática do pecado: “Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu nem o conheceu” (1 João 3,6). 

Ele contrasta os filhos de Deus com os filhos do diabo, destacando que os filhos de Deus praticam a justiça e o amor: 

“Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus” (1 João 3,10). 

João reafirma que o propósito da vinda de Cristo foi destruir as obras do diabo e nos libertar do pecado.

O Amor em Ação (1 João 3,11-18)

João relembra o mandamento de amar uns aos outros, e como esse amor deve ser demonstrado em ações concretas: “Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos uns aos outros” (1 João 3,11). 

Ele adverte contra o ódio, utilizando o exemplo de Caim, que matou seu irmão Abel: “Não como Caim, que era do maligno, e matou a seu irmão. E por que causa o matou? Porque suas obras eram más, e as de seu irmão, justas” (1 João 3,12). 

O amor verdadeiro se manifesta em ações, não apenas em palavras: “Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade” (1 João 3,18).

A Confiança em Deus (1 João 3,19-24)

João encoraja os cristãos a manterem a confiança em Deus, sabendo que Ele é maior do que nossos corações e conhece todas as coisas: 

“E nisto conhecemos que somos da verdade, e diante dele asseguraremos nossos corações; porque se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas” (1 João 3,19-20). 

Ele reforça que, se nosso coração não nos condena, temos confiança diante de Deus e recebemos d’Ele tudo o que pedimos: “E qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus mandamentos” (1 João 3,22). 

João conclui lembrando que o mandamento de Deus é crer no nome de Jesus Cristo e amar uns aos outros: “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, como ele nos ordenou” (1 João 3,23).

Discernindo os Espíritos (1 João 4,1-6)

João instrui os fiéis a provarem os espíritos para ver se são de Deus, pois muitos falsos profetas têm saído pelo mundo: 

“Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1 João 4,1). 

Ele oferece um critério para discernir os espíritos: “Nisto conhecereis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus” (1 João 4,2). 

João tranquiliza os cristãos, afirmando que eles são de Deus e já venceram os falsos profetas, pois o que está neles é maior do que o que está no mundo: 

“Filhinhos, vós sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo” (1 João 4,4).

Deus é Amor (1 João 4,7-16)

João apresenta uma das declarações mais sublimes do Novo Testamento: “Deus é amor” (1 João 4,8). 

Ele exorta os cristãos a amarem uns aos outros, pois o amor é de Deus e todo aquele que ama é nascido de Deus: 

“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus, e conhece a Deus” (1 João 4,7). 

João revela que o amor de Deus se manifestou em enviar Seu Filho unigênito ao mundo para que pudéssemos viver por meio d’Ele: 

“Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos” (1 João 4,9). 

Ele conclui que, se Deus nos amou assim, devemos amar uns aos outros: “Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros” (1 João 4,11).

O Amor Perfeito e o Medo (1 João 4,17-21)

João fala sobre o amor perfeito, que lança fora todo medo: “No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor” (1 João 4,18). 

Ele destaca que, se alguém diz que ama a Deus, mas odeia seu irmão, é mentiroso: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso” (1 João 4,20). 

A razão é simples: aquele que não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê: “Porque quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (1 João 4,20). 

O mandamento que temos de Deus é que quem ama a Deus, ame também seu irmão: “E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também a seu irmão” (1 João 4,21).

A Fé que Vence o Mundo (1 João 5,1-5)

João ensina que todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus” (1 João 5,1). 

Ele reforça que o amor a Deus é evidenciado pela obediência aos seus mandamentos: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados” (1 João 5,3). 

João assegura que a fé em Jesus é a vitória que vence o mundo: “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” (1 João 5,4). 

Esta passagem nos encoraja a perseverar na fé, sabendo que, através dela, vencemos as tentações e as provações deste mundo.

O Testemunho do Espírito, da Água e do Sangue (1 João 5,6-12)

João afirma que Jesus Cristo veio por meio da água e do sangue, não só pela água, mas pela água e pelo sangue: “Este é aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só pela água, mas pela água e pelo sangue” (1 João 5,6). 

Ele menciona o testemunho do Espírito, da água e do sangue, que são concordantes: “Porque três são os que dão testemunho: o Espírito, e a água, e o sangue; e estes três concordam” (1 João 5,8). 

João ressalta que o testemunho de Deus é maior que o dos homens, e quem crê no Filho de Deus tem esse testemunho em si mesmo: 

“Se recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; porque este é o testemunho de Deus, que de seu Filho testificou” (1 João 5,9).

Conclusão: A Vida Eterna e a Confiança em Deus (1 João 5,13-21)

João conclui sua carta reafirmando que escreveu para que saibamos que temos a vida eterna em Cristo: “Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus” (1 João 5,13). 

Ele encoraja os fiéis a confiarem na oração, sabendo que, se pedirmos algo segundo a vontade de Deus, Ele nos ouvirá: “E esta é a confiança que temos nele, que se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1 João 5,14). 

Finalmente, João exorta a manter-se longe dos ídolos e permanecer na verdadeira fé em Jesus Cristo: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Amém” (1 João 5,21). 

Assim, a Primeira Carta de João nos chama a viver em amor, verdade e confiança em Deus, fortalecidos na certeza da vida eterna.

Referências Católicas

  1. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.
  2. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.
  3. Concílio Vaticano II: Constituição Dogmática sobre a Igreja - Lumen Gentium.

Histoipixuna

Elias Albano de Souza

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