A Carta de I Coríntios: Uma Exortação à Unidade e à Santidade


A Carta de I Coríntios: Uma Exortação à Unidade e à Santidade

Introdução

A Primeira Carta aos Coríntios, escrita pelo apóstolo Paulo, aborda uma variedade de problemas e questões enfrentados pela comunidade cristã em Corinto. 

Esta epístola é um testemunho da sabedoria pastoral de Paulo, que busca corrigir divisões, imoralidade e abusos litúrgicos, enquanto exorta os crentes à unidade e à santidade. 

Em quinze parágrafos, vamos explorar as principais partes desta carta, destacando suas implicações teológicas e práticas para a vida cristã.

Saudação e Ação de Graças (1 Coríntios 1,1-9)

Paulo começa sua carta com uma saudação calorosa, afirmando sua autoridade apostólica: "Paulo, chamado para ser apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus" (1 Coríntios 1,1). 

Ele expressa sua gratidão a Deus pela graça dada aos coríntios: "Dou graças ao meu Deus sempre a vosso respeito, pela graça de Deus que vos foi dada em Cristo Jesus" (1 Coríntios 1,4). 

Paulo também destaca que os coríntios não carecem de nenhum dom espiritual: "De maneira que nenhum dom vos falta, enquanto aguardais a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Coríntios 1,7).

Divisões na Igreja (1 Coríntios 1,10-17)

Paulo rapidamente aborda o problema das divisões na igreja, exortando os coríntios à unidade: "Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões" (1 Coríntios 1,10). 

Ele menciona que alguns dizem pertencer a Paulo, Apolo, Cefas ou Cristo, enfatizando que Cristo não está dividido: "Está Cristo dividido? Foi Paulo crucificado por vós? Ou fostes batizados em nome de Paulo?" (1 Coríntios 1,13). 

Paulo reafirma que sua missão é pregar o evangelho, não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo não se torne vã: "Cristo enviou-me, não para batizar, mas para pregar o evangelho" (1 Coríntios 1,17).

A Sabedoria de Deus e a Sabedoria Humana (1 Coríntios 1,18-31)

Paulo contrasta a sabedoria de Deus com a sabedoria humana, afirmando que a mensagem da cruz é loucura para os que perecem, mas poder de Deus para os salvos: "A palavra da cruz é loucura para os que perecem, mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus" (1 Coríntios 1,18). 

Ele cita Isaías para mostrar que Deus destrói a sabedoria dos sábios: "Destruirei a sabedoria dos sábios, e rejeitarei a inteligência dos inteligentes" (1 Coríntios 1,19; Isaías 29,14). 

Paulo conclui que Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, para que ninguém se glorie diante de Deus: "Para que, como está escrito: Quem se gloria, glorie-se no Senhor" (1 Coríntios 1,31; Jeremias 9,23).

A Sabedoria Revelada pelo Espírito (1 Coríntios 2,1-16)

Paulo reflete sobre sua própria pregação, afirmando que não veio com sabedoria humana, mas em fraqueza e temor, para que a fé dos coríntios estivesse no poder de Deus: 

"A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder" (1 Coríntios 2,4). 

Ele explica que a sabedoria de Deus é revelada pelo Espírito Santo, que investiga todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus: 

"Mas Deus no-las revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até as profundezas de Deus" (1 Coríntios 2,10). 

A mente natural não pode entender as coisas do Espírito, pois são discernidas espiritualmente: 

"Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (1 Coríntios 2,14).

Imaturidade Espiritual e o Fundamento em Cristo (1 Coríntios 3,1-15)

Paulo critica a imaturidade espiritual dos coríntios, dizendo que não pode falar com eles como espirituais, mas como carnais: 

"Eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo" (1 Coríntios 3,1). 

Ele compara os ministros a trabalhadores de Deus, com Cristo sendo o único fundamento: "Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo" (1 Coríntios 3,11). 

As obras de cada um serão reveladas pelo fogo no dia do julgamento, e somente as que resistirem serão recompensadas: "A obra de cada um será manifestada, pois o dia a demonstrará, porque será revelada pelo fogo" (1 Coríntios 3,13).

O Templo de Deus e a Sabedoria (1 Coríntios 3,16-23)

Paulo lembra aos coríntios que são o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita neles: "Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" (1 Coríntios 3,16). 

Ele adverte que quem destruir o templo de Deus será destruído por Deus: "Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus é santo, e vós sois esse templo" (1 Coríntios 3,17). 

Paulo exorta a não se vangloriar na sabedoria humana, pois todas as coisas são dos crentes, e eles são de Cristo, e Cristo é de Deus: "Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque todas as coisas são vossas" (1 Coríntios 3,21-23).

A Fidelidade dos Ministros (1 Coríntios 4,1-21)

Paulo discute a fidelidade dos ministros de Cristo, afirmando que eles devem ser considerados como servos de Cristo e administradores dos mistérios de Deus: 

"Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus" (1 Coríntios 4,1). 

A fidelidade é o principal requisito para um administrador: "Além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel" (1 Coríntios 4,2). 

Paulo adverte contra o julgamento prematuro e enfatiza que somente o Senhor conhece os corações: "Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual trará à luz as coisas ocultas das trevas" (1 Coríntios 4,5).

Imoralidade na Igreja (1 Coríntios 5,1-13)

Paulo confronta um caso grave de imoralidade na igreja de Corinto, onde um homem mantém relações com a esposa de seu pai: 

"Geralmente, se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, qual nem ainda entre os gentios, como é haver quem abuse da mulher de seu pai" (1 Coríntios 5,1). 

Ele instrui a igreja a remover o mal do seu meio: "Lançai fora o velho fermento, para que sejais uma nova massa" (1 Coríntios 5,7). 

Paulo também enfatiza que os crentes não devem se associar com pessoas que se dizem irmãos, mas que vivem em imoralidade: "Com o tal nem ainda comais" (1 Coríntios 5,11).

Litígios entre Crentes (1 Coríntios 6,1-11)

Paulo repreende os coríntios por levarem disputas entre irmãos a tribunais seculares: "Ousa algum de vós, tendo um caso contra outro, ir a juízo perante os injustos e não perante os santos?" (1 Coríntios 6,1). 

Ele lembra que os santos hão de julgar o mundo e os anjos: "Não sabeis vós que os santos hão de julgar o mundo?... Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos?" (1 Coríntios 6,2-3). 

Paulo adverte contra a injustiça e encoraja os crentes a lembrar que foram lavados, santificados e justificados em nome do Senhor Jesus Cristo: 

"Mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo" (1 Coríntios 6,11).

A Imoralidade Sexual (1 Coríntios 6,12-20)

Paulo aborda a questão da imoralidade sexual, afirmando que o corpo do crente é templo do Espírito Santo: "Não sabeis vós que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus?" (1 Coríntios 6,19). 

Ele exorta os crentes a fugir da imoralidade sexual, pois pecados sexuais são contra o próprio corpo: "Fugi da fornicação. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que fornica peca contra o próprio corpo" (1 Coríntios 6,18). 

Paulo conclui que os crentes foram comprados por um preço e devem glorificar a Deus no corpo e no espírito: "Porque fostes comprados por um preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo" (1 Coríntios 6,20).

Casamento e Celibato (1 Coríntios 7,1-40)

Paulo oferece conselhos sobre o casamento e o celibato, reconhecendo que cada um tem seu próprio dom de Deus: 

"Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira, e outro de outra" (1 Coríntios 7,7). 

Ele aconselha os casados a cumprir seus deveres conjugais e a não se separar, a menos que seja por consentimento mútuo: 

"A mulher não se aparte do marido... e o marido não deixe a mulher" (1 Coríntios 7,10-11). 

Paulo também discute as vantagens do celibato para aqueles que podem permanecer solteiros, dedicando-se inteiramente ao Senhor: 

"Quem não está casado cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor" (1 Coríntios 7,32).

A Liberdade Cristã e os Ídolos (1 Coríntios 8,1-13)

Paulo aborda a questão de comer alimentos sacrificados aos ídolos, afirmando que um ídolo nada é no mundo e que há um só Deus: "Sabemos que um ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só" (1 Coríntios 8,4). 

No entanto, ele adverte que o conhecimento deve ser acompanhado de amor, pois o conhecimento pode levar à arrogância, mas o amor edifica: "A ciência incha, mas o amor edifica" (1 Coríntios 8,1). 

Paulo exorta a não usar a liberdade cristã de maneira que possa causar tropeço aos irmãos mais fracos na fé: "Portanto, se o manjar escandalizar a meu irmão, nunca mais comerei carne" (1 Coríntios 8,13).

O Uso dos Dons Espirituais (1 Coríntios 12,1-31)

Paulo discute os dons espirituais, afirmando que há diversidade de dons, mas o mesmo Espírito: "Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo" (1 Coríntios 12,4). 

Ele explica que cada dom é dado para o benefício comum: "A manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil" (1 Coríntios 12,7). 

Paulo usa a metáfora do corpo para descrever a igreja, onde cada membro tem uma função importante: 

"Assim também nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um dos outros" (1 Coríntios 12,12).

O Amor como o Caminho Excelente (1 Coríntios 13,1-13)

Paulo enfatiza a supremacia do amor sobre todos os dons espirituais: "Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como o bronze que soa ou como o címbalo que retine" (1 Coríntios 13,1). 

Ele descreve as características do amor verdadeiro: "O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece" (1 Coríntios 13,4). 

Paulo conclui que, no final, a fé, a esperança e o amor permanecem, mas o maior deles é o amor: "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o amor" (1 Coríntios 13,13).

A Ressurreição dos Mortos (1 Coríntios 15,1-58)

Paulo aborda a ressurreição dos mortos, reafirmando a centralidade da ressurreição de Cristo para a fé cristã: "Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a vossa fé" (1 Coríntios 15,14). 

Ele explica que Cristo é as primícias dos que morreram e que todos serão vivificados em Cristo: "Assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo" (1 Coríntios 15,22). 

Paulo conclui com uma descrição do corpo ressurreto, afirmando que a vitória sobre a morte é dada através de nosso Senhor Jesus Cristo: 

"Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Coríntios 15,57).

Conclusão

A Primeira Carta aos Coríntios é uma obra-prima da teologia pastoral de Paulo, abordando questões de unidade, moralidade, adoração e doutrina. 

Sua mensagem é relevante para a igreja hoje, pois nos chama a viver em santidade, amor e unidade, usando nossos dons espirituais para edificar o corpo de Cristo. 

Ao refletirmos sobre esta carta, que possamos ser inspirados a seguir o exemplo de Cristo, vivendo de maneira que glorifique a Deus e fortaleça a comunidade cristã.

Referências Católicas

  1. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.
  2. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.
  3. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Documentos da CNBB. Brasília: Edições CNBB, 1992.

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