O Evangelho de Marcos: A Revelação de Jesus como o Filho de Deus


O Evangelho de Marcos: A Revelação de Jesus como o Filho de Deus

Introdução

O Evangelho de São Marcos é o segundo livro do Novo Testamento e um dos quatro evangelhos canônicos da Bíblia. 

Ele é considerado o mais antigo dos evangelhos, escrito provavelmente entre os anos 65 e 70 d.C. 

Marcos, cujo nome completo é João Marcos, era um discípulo de Pedro, e seu evangelho reflete as pregações e ensinamentos do apóstolo. 

O texto é conhecido por seu estilo direto e conciso, focando na ação e nos milagres de Jesus, destacando-o como o Filho de Deus. 

Neste artigo, exploraremos as principais partes do Evangelho de Marcos, examinando suas passagens-chave, mensagens teológicas e impacto no contexto cristão.

O Início do Ministério de Jesus (Marcos 1,1-20)

O Evangelho de Marcos começa com a declaração: "Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus" (Marcos 1,1). 

Logo em seguida, ele introduz João Batista, que preparava o caminho para Jesus, cumprindo a profecia de Isaías: "Eis que envio o meu mensageiro diante de tua face, que preparará o teu caminho" (Marcos 1,2-3; Isaías 40,3). 

João batiza Jesus no rio Jordão, e o Espírito Santo desce sobre Ele como uma pomba, enquanto uma voz do céu declara: "Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo" (Marcos 1,11). 

Após o batismo, Jesus começa seu ministério na Galileia, chamando seus primeiros discípulos: Simão e André, Tiago e João (Marcos 1,16-20).

Milagres e Ensinos em Cafarnaum (Marcos 1,21-45)

Em Cafarnaum, Jesus ensina na sinagoga e surpreende a todos com sua autoridade, "pois os ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas" (Marcos 1,22). 

Ele expulsa um espírito impuro de um homem, que exclama: "Que temos nós contigo, Jesus de Nazaré? Vieste para nos destruir? Sei quem tu és: o Santo de Deus" (Marcos 1,24). 

A fama de Jesus se espalha rapidamente, e muitos vêm até Ele para serem curados de suas enfermidades e libertos de espíritos malignos (Marcos 1,32-34). 

Após um período de oração solitária, Ele afirma que precisa pregar em outros lugares, pois "foi para isso que eu vim" (Marcos 1,38).

Conflitos com os Fariseus (Marcos 2,1-3,6)

A crescente popularidade de Jesus traz também conflitos com os líderes religiosos. 

Quando Ele cura um paralítico em Cafarnaum e perdoa seus pecados, os escribas pensam em seus corações: "Por que este homem fala assim? Ele blasfema! Quem pode perdoar pecados senão um só, que é Deus?" (Marcos 2,7). 

Jesus, conhecendo seus pensamentos, pergunta: "Por que pensais assim em vossos corações? O que é mais fácil, dizer ao paralítico: 'Teus pecados estão perdoados', ou dizer: 'Levanta-te, toma o teu leito e anda'?" (Marcos 2,8-9). 

Em outro incidente, Jesus defende seus discípulos por colherem espigas no sábado, afirmando: "O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado" (Marcos 2,27).

Parábolas e Ensinos sobre o Reino (Marcos 4,1-34)

Jesus frequentemente usa parábolas para ensinar sobre o Reino de Deus, um método que instiga os ouvintes a refletirem sobre as verdades espirituais. 

Ele conta a Parábola do Semeador, explicando que as sementes representam a Palavra de Deus e os diferentes solos, os diversos tipos de corações que a recebem (Marcos 4,3-20). 

Ele também fala sobre a lâmpada sob o alqueire, enfatizando que a luz da verdade deve ser manifestada (Marcos 4,21-23). 

Outra parábola importante é a do grão de mostarda, que ilustra como o Reino de Deus, embora comece pequeno, cresce para se tornar maior do que todas as hortaliças (Marcos 4,30-32).

Milagres de Jesus sobre a Natureza (Marcos 4,35-5,43)

Os milagres de Jesus sobre a natureza demonstram seu poder divino. 

Em um dos eventos mais memoráveis, Ele acalma uma tempestade no Mar da Galileia. Quando os discípulos, apavorados, acordam Jesus dizendo: "Mestre, não te importa que pereçamos?" (Marcos 4,38), Ele repreende o vento e diz ao mar: "Cala-te, aquieta-te!" (Marcos 4,39). 

Em seguida, Jesus pergunta aos discípulos: "Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?" (Marcos 4,40). 

No capítulo seguinte, Ele expulsa uma legião de demônios de um homem em Gadara, permitindo que os espíritos impuros entrem em uma manada de porcos, que se precipitam no mar e se afogam (Marcos 5,1-13).

A Missão dos Doze Apóstolos (Marcos 6,1-13)

Jesus retorna a Nazaré, sua terra natal, onde enfrenta incredulidade: "Não é este o carpinteiro, filho de Maria?" (Marcos 6,3). 

Devido à falta de fé, Ele realiza poucos milagres ali, dizendo: "Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e na sua casa" (Marcos 6,4). 

Logo depois, Jesus envia os doze apóstolos em missão, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros e instruindo-os a não levar nada para o caminho, exceto um cajado (Marcos 6,7-9). 

Eles pregam o arrependimento, expulsam muitos demônios e curam muitos enfermos, ungindo-os com óleo (Marcos 6,12-13).

A Morte de João Batista (Marcos 6,14-29)

O relato da morte de João Batista é uma interjeição dramática no ministério de Jesus. 

Herodes Antipas, que havia prendido João por causa de Herodíades, sua cunhada e esposa, é pressionado a executar João após um pedido de sua enteada, Salomé, durante uma festa (Marcos 6,17-18). 

Herodes relutantemente cumpre o pedido e envia um carrasco para decapitar João na prisão (Marcos 6,27). 

Os discípulos de João vêm, levam seu corpo e o colocam em um túmulo (Marcos 6,29). 

Este evento sublinha a oposição crescente contra os mensageiros de Deus e prepara o terreno para a paixão de Jesus.

A Multiplicação dos Pães (Marcos 6,30-44)

Um dos milagres mais conhecidos de Jesus é a multiplicação dos pães e peixes. 

Após retornar de sua missão, os apóstolos relatam tudo a Jesus, que sugere que vão a um lugar deserto para descansar (Marcos 6,30-31). 

Contudo, uma grande multidão os segue, e Jesus, movido de compaixão, começa a ensinar-lhes muitas coisas (Marcos 6,34). 

Quando a hora já estava avançada, os discípulos sugerem que mandem o povo embora para comprar comida, mas Jesus lhes responde: "Dai-lhes vós mesmos de comer" (Marcos 6,37). 

Ele então abençoa cinco pães e dois peixes, alimentando cerca de cinco mil homens (Marcos 6,41-44).

Jesus Anda sobre as Águas (Marcos 6,45-52)

Após a multiplicação dos pães, Jesus envia seus discípulos de barco para Betsaida enquanto Ele despede a multidão e sobe ao monte para orar (Marcos 6,45-46). 

Durante a madrugada, os discípulos lutam contra o vento contrário no meio do mar. 

Jesus vem ao encontro deles, andando sobre as águas, mas eles se assustam, pensando ser um fantasma (Marcos 6,48-49). 

Jesus imediatamente fala com eles: "Coragem, sou eu; não temais!" (Marcos 6,50). 

Ele sobe ao barco, o vento cessa, e os discípulos ficam extremamente atônitos, pois ainda não tinham compreendido o milagre dos pães (Marcos 6,51-52).

A Tradição dos Anciãos (Marcos 7,1-23)

Jesus confronta os fariseus e escribas sobre a tradição dos anciãos, especialmente sobre as leis de pureza ritual. 

Os fariseus questionam por que os discípulos de Jesus comem sem lavar as mãos, seguindo a tradição dos anciãos (Marcos 7,5). 

Jesus responde, citando Isaías: "Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim" (Marcos 7,6-7; Isaías 29,13). 

Ele explica que não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai do coração: "Do coração dos homens é que procedem os maus pensamentos, as prostituições, os homicídios..." (Marcos 7,21).

A Fé da Mulher Siro-Fenícia (Marcos 7,24-30)

Jesus se retira para a região de Tiro e Sidônia, onde encontra uma mulher siro-fenícia que implora para que Ele expulse o demônio de sua filha (Marcos 7,25-26). 

Inicialmente, Jesus lhe diz: "Deixa que primeiro se saciem os filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos" (Marcos 7,27). 

Mas a mulher responde: "Sim, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem das migalhas dos filhos" (Marcos 7,28). 

Impressionado com sua fé, Jesus lhe diz: "Por causa desta palavra, vai; o demônio já saiu de tua filha" (Marcos 7,29). 

A filha é encontrada deitada na cama, livre do espírito maligno (Marcos 7,30).

A Transfiguração de Jesus (Marcos 9,2-13)

A Transfiguração é um dos eventos mais gloriosos do ministério de Jesus. 

Ele leva Pedro, Tiago e João a um alto monte, onde é transfigurado diante deles: "Suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas, como nenhum lavadeiro na terra poderia alvejar" (Marcos 9,3). 

Moisés e Elias aparecem e conversam com Jesus, e uma voz vem da nuvem: "Este é o meu Filho amado; escutai-o!" (Marcos 9,7). 

Após o evento, Jesus ordena aos discípulos que não contem a visão a ninguém até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos (Marcos 9,9). 

Os discípulos discutem entre si o que significa "ressuscitar dos mortos" (Marcos 9,10).

O Segundo Anúncio da Paixão (Marcos 9,30-32)

Jesus prediz sua paixão pela segunda vez enquanto atravessa a Galileia com seus discípulos. 

Ele lhes diz: "O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão; mas, três dias depois de morto, ele ressuscitará" (Marcos 9,31). 

Os discípulos, no entanto, não compreendem a declaração e têm medo de perguntar-lhe sobre isso (Marcos 9,32). 

Este anúncio destaca a centralidade da morte e ressurreição de Jesus em sua missão e prepara os discípulos para os eventos futuros em Jerusalém, mesmo que ainda não compreendam totalmente o que isso significa.

A Entrada Triunfal em Jerusalém (Marcos 11,1-11)

A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém marca o início da Semana Santa. 

Ele envia dois discípulos para buscar um jumentinho, sobre o qual ninguém ainda montou, dizendo: "Se alguém vos perguntar: 'Por que fazeis isso?', respondei: 'O Senhor precisa dele e logo o devolverá'" (Marcos 11,3). 

Os discípulos encontram o jumentinho conforme Jesus havia dito, e Ele monta nele para entrar em Jerusalém. A multidão estende suas vestes no caminho e clama: "Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!" (Marcos 11,9). 

Jesus entra no templo e, após olhar ao redor, retorna para Betânia com os doze (Marcos 11,11).

Conclusão

O Evangelho de São Marcos nos oferece um relato dinâmico e direto do ministério, morte e ressurreição de Jesus Cristo. 

Ele enfatiza a identidade de Jesus como o Filho de Deus e o Messias, revelando-o através de seus ensinamentos, milagres e confrontos com os líderes religiosos. 

Ao longo de seus dezesseis capítulos, Marcos nos conduz por uma jornada que culmina na paixão e ressurreição de Jesus, convidando-nos a refletir sobre o significado da aliança que Deus estabelece conosco através de Seu Filho. 

A leitura deste evangelho nos desafia a reconhecer a autoridade de Jesus e a viver como seus discípulos fiéis.

Referências Católicas

  1. Bíblia Sagrada, Tradução da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
  2. Catecismo da Igreja Católica, Libreria Editrice Vaticana.
  3. Encíclica "Dei Verbum" do Papa Paulo VI sobre a Revelação Divina.

Histoipixuna

Elias Albano de Souza

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